sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Globalização da responsabilidade

Feitas as contas, o que as pessoas comuns de todos os países do mundo estão pedindo é a simples oportunidade de viver uma vida decente, de ter um abrigo adequado e comida para comer, poder cuidar dos filhos e viver com dignidade, uma boa educação para suas crianças e o atendimento de suas necessidades de saúde, acesso a um emprego remunerado.
Em resumo, o principal desafio que o nosso mundo enfrenta no novo século é a erradicação da pobreza, que ainda cobre muitas partes do globo e flagela uma grande porcentagem da espécie humana. Vale a pena citar o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 1999 para lembrar da escala de desigualdade à medida que saímos do século e do milênio.
O documento aponta ''oportunidades e recompensas da globalização sendo distribuídas desigual e injustamente, concentrando poder e riqueza em um grupo seleto de pessoas, nações e corporações, marginalizando os outros''. Alerta que ''quando as causas de lucro dos jogadores do mercado se descontrolam, elas desafiam a ética das pessoas e sacrificam o respeito à justiça e aos direitos humanos".
O relatório prossegue apresentando números específicos, que ressaltam a distribuição desigual e injusta. Os cinco países mais ricos têm 86% do Produto Interno Bruto mundial. Os cinco últimos, apenas 1%. Os cinco primeiros comandam 82% dos mercados de exportação. Os cinco últimos, apenas 1%.
O destino econômico de um país não está apenas em suas mãos. No mundo globalizado, acontecimentos em um canto do planeta podem ter um efeito imenso sobre os destinos de outros, mesmo que distantes e de modo algum envolvidos nesses acontecimentos.
Esse estado de coisas deveria lembrar-nos que, à medida que afetamos o destinos uns dos outros, também temos uma responsabilidade comum no tratamento da pobreza. A simples confiança no mercado para automaticamente erradicar a pobreza e a grande desigualdade é uma grave falácia. Todos sabemos que o mercado, com todos os seus benefícios, não resolve tudo.
Se, da noite para o dia, como resultado da agitação dos mercados financeiros, 17 milhões de pessoas na Indonésia caem na pobreza; se 1 milhão de crianças naquela região não conseguem voltar à escola; se ao redor do mundo 1,3 bilhão de pessoas vivem com menos de um dólar por dia e 3 bilhões de pessoas com menos de dois dólares por dia, se 1,3 bilhão de pessoas não têm acesso a água limpa, 2 bilhões não têm acesso ao poder, certamente, não podemos continuar com os negócios como eles são hoje.
Juntos, vivemos todos em uma aldeia global e, a longo prazo, não é vantajoso para ninguém que haja ilhas de riqueza em um mar de pobreza. Precisamos também de uma globalização da responsabilidade. Acima de tudo, esse é o desafio do próximo século.

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